20 novembro 2007

espelhos

Acho. (sim. acho) que a minha alma ficou presa no espelho ao fundo do corredor.
E não digo isto só por dizer (não. longe disso).
digo-o porque sempre que passo pelo maldito espelho e sorrio, o que vejo não ri [quando passo pelo espelho e choro, o que vejo não chora. quando passo pelo espelho enraivecida, o que vejo não odeia.] vejo sempre o mesmo. o que vejo não chora. não sorri nem odeia. não ama. não mexe.
[não sente]
Sei que o problema não é do espelho. É de mim.
E é por isso que tenho tanta certeza que a minha alma fugiu e ficou presa num espelho que só mostra a realidade.

27 outubro 2007

demónios

os demónios dos meus sonhos vêem dançar na rua ao lusco-fusco. e não há nada mais assustador do que demónios contentes...

16 outubro 2007

um dia hei-de encontrar aquilo que me faz falta. [não sei o que é. mas tenho dentro aquela ânsia de saber. de procurar.]

porque isto é pouco. muito pouco para mim. viver assim. ficar aqui ou ali. em sítio nenhum. ou em todo o lado.
e é esquisito. não saber o que se quer. mas ter esta vontade cá dentro. esta fome.

surreal - disse-me ela. o telefonema mais surreal que ela tinha recebido. normal. eu achei-o normal. [o que se acha quando uma garrafa de vodka nos dorme nos braços e nos conforta o coração? e o telefone é a nossa única ligação a alguém?]

é isso sim. acho a normalidade uma porcaria. a rotina então pff. odeio-a. odeio-a tanto quanto se pode odiar qualquer coisa [ou talvez um pouco menos]
a banalidade. aquele desconforto. aquela dor que não vai embora. aquela falta de ar nos pulmões. [afoga-nos disseste tu?]
sim. afoga-nos. enlouquece-nos. mata-nos.
por isso tentamos encontrar um pouco de sossego nesta nossa vida hipócrita. fazemos isto. aquilo. fazemos o que nos mandam. o que não queremos. chega de viver assim.
quando é que vamos parar de fingir que vivemos [e imitamos os outros]e passamos a VIVER?! quando?

22 setembro 2007

anda só mais um bocadinho
[o mundo é pequenino e encontra-los num instante]
eras uma luz pequenina. loirinha. bonita.
rias todo o dia. toda a tarde. toda a noite.
gostavas de toda a gente. brincavas com toda a gente.
eras o meu telefone para o mundo. a minha conta astronómica no final do mês.
eras a minha luz.

esforça-te só mais um bocadinho
[vais acabar por alcançar o que queres]
eras a minha paz. a minha calma. a minha ligação à terra.
tinhas um tereré e levavas as cores do arco-íris ao pescoço.
gostavas da relva e das fadas e dos duendes mágicos.
e nunca acreditaste muito nos números.
eras muito expressiva e sentimental e tinhas um coração do tamanho do mundo.
eras a relva. as flores. as árvores.

corre só mais um bocadinho
[não te vais cansar muito]
eras o meu riso. contigo estava sempre a rir.
não te conseguias calar um bocadinho [só ao pé dos outros]
eras tímido [hoje um bocadinho menos]
gostavas de lutas e coisas assim. [eu não gostava, mas achava piada]
achava até piada quando dizias que compravas acções da playboy...
eras a felicidade. o circo. a criança.

aguenta só mais um bocadinho
[um ano nem é muito tempo]
eras alto. esguio. forte. a minha protecção.
tinhas um riso tímido. de bebé.
achavas piada a tudo também [principalmente àqueles dois]
gostavas de jogar à bola. aliás de qualquer desporto.
eras um doce, por baixo daquele ar the 'tough guy'
eras o meu apoio. o outro lado da conversa. a realidade. a terra.

sorri só mais um bocadinho.
[mesmo sem vontade]
eras linda, mas nunca acreditaste nisso.
gostavas de nadar [eras um peixinho dentro de água]
mas sempre foste insegura e emotiva, e talvez por isso tenhamos ficado amigas
[eu também sou]
rias com as nossas "danças" e apanhaste o 'bitch'.
gostavas de sair à noite, de dançar.
eras a minha lua. a minha noite. a minha solidão.

fala só mais um bocadinho.
[mas não penses muito]
eras o mais peculiar de todos. o mais cómico.
podias fazer grandes espectáculos que todos te iriam aplaudir.
nunca ninguém conseguia estar ao pé de ti mais de dois minutos sem desatar à gargalhada.
gostavas de pôr músicas nas aulas de matemática [principalmente ' a felicidade' e o 'frique-frique']
mas à primeira vista parecias o mais calminho de todos. um sossego.
eras a calma por detrás da tempestade. o calor. a paródia.

grita só mais um bocadinho
[mais alto. assim ninguém te ouve]
eras diferente. barba. cabelo comprido. eras tu.
sempre foste sincero. [até naquela vez em que me disseste que o meu cabelo estava uma merda]
gostavas de fazer filmes [como eu] e de cantar.
querias sempre ir a concertos e pular muito [nunca cheguei a ir a um contigo]
eras a música. a alegria. o dia.

calma, é só mais um bocadinho
[já falta tão pouco...]
eras tão pequenina, mas tão crescida ao mesmo tempo.
tinhas os olhos cor-do-mar em dias de tempestade e quando sorrias, eles sorriam.
gostavas de futsal e de correr [liberta não é?]
querias mexer com os computadores e não tarda serás uma futura engenheira.
eras a cor. a força.



mas presente não é passado. e vocês são, não eram. e para mim serão sempre.

20 setembro 2007

ignorância

Parte-me por dentro saber tanta coisa. saber que não fico onde quero. saber que estou onde não faço falta. saber que deixo tanto para trás. saber que estou a crescer e a mudar. saber que o tempo passa mas a saudade fica. saber que a distância, muitas vezes, é uma cabra. saber que sonhos por vezes não passam disso mesmo. saber que mais cedo ou mais tarde vou deixar de cantar na rua. de me deitar no banco do jardim a ver o rio. saber que vou ter responsabilidades a sério. que o mundo não é uma brincadeira. nem tão bonito como aparece nos filmes. saber que as pessoas nem sempre nos abraçam quando precisamos. saber que muito do que temos por certo é uma ilusão e a vida por vezes é uma autêntica merda. saber que, um dia, vou deixar definitivamente tudo o que conheço e passarei a não conhecer nada. saber que o amor não passa de uma quimera. de uma torre de babel fantasiada que não atinge o céu nunca. saber que não existe um yang para cada yin. saber que a chuva é mais frequente que o sol e que quando pensamos que o dia não pode ficar mais cinzento [surpresa] fica preto. saber que a saudade corrói desorienta e mata-nos mais depressa do que qualquer faca. saber que vou partir muitos pratos até acertar com o armário. saber que um dia acordo, olho para trás e não vejo nada do que imaginei aos 9 anos. saber que os espelhos roubam-nos a alma e a vida. saber que nada mais importa.
mas eu não quero saber nada disto. não por agora. não nos próximos 50 anos. nem na próxima vida. se é assim prefiro viver ignorante... sempre.

16 agosto 2007

era uma vez...

'era uma vez...'
(se eu leio isto mais uma vez chateio-me a sério
porque é que todas as histórias felizes começam assim?
e acabam com o 'e viveram felizes para sempre'?
que tédio. as coisas nunca são assim,
por isso para quê encher a cabeça das criancinhas com sonhos inúteis que mais tarde só as vão magoar?
chateia-me mesmo.
eu já fui [ou ainda sou] uma dessas criancinhas a acreditar na princesa aurora e no príncipe felipe
e nos castelos e nos sapatinhos de cristal e nos beijos encantados... nos dragões nas fadas boas e nas más...
mas já conheço a realidade.
tenho a percepção que 90% das histórias não têm um final feliz.
[ou nem sequer começam] nem sei o que mais me entristece.
e continuo a acreditar.)







quando tiver meninos(as) não lhes vou contar histórias da carochinha e de princesas vou contar-lhes como a avó e o avô conseguem estar casados ao fim de tantos anos e de terem passado por tanta coisa e ainda continuarem juntos. porque essas são as histórias que as crianças devem aprender.




sou apologista da verdade. senão chego ao fim a sonhar com uma carruagem à minha espera. pff

20 julho 2007

Queria parar o tempo. Fazê-lo andar em câmara lenta, muito lentamente. Aproveitar cada minuto como se fosse o último. Como se nunca mais nada voltasse a ser o que era. Aproveitar cada pôr-do-sol, cada riso, cada abraço, cada beijo como se fosse o último. Como se daqui a 2 segundos o mundo [ou nós] acabássemos. E nós acabamos mesmo. A cada momento vamos ficando mais velhos, mais enrugados, mais tristes, mais pesados com o passado às costas, que é cada vez maior. Passamos a ter menos tempo para a frente, menos minutos, mais segundos contados, mais tristes, mais peso. Passamos a ver a vida a andar andar andar e não conseguimos agarrá-la e dizer: '-não! hoje não! hoje o tempo é só meu.'

Quero parar o tempo.
Quero fazê-lo andar para trás.
Quero fazê-lo andar para a frente lentamente.

Ter todo o tempo do mundo é impossível. mas eu quero. alguma sugestão?

16 julho 2007

esperança

tudo o que eu precisava fugiu por uma janela verde e dourada.
e eu fiquei no quarto preto e branco à espera que voltasse.




















ainda hoje espero.

02 julho 2007

sorri! está sol lá fora.

[e a dormir ninguém está contente.]

26 junho 2007

falo.penso.perco.

falar.
falas-me ao ouvido. pedes-me que fique.
mas ficar onde? contigo respondes.



porquê?

[silêncio]

já me mandaste embora uma vez.
não faz sentido.
verdade?
não acredito em ti simplesmente. perdi a esperança de ouvir.
de ouvir o que eu queria e o que tu não me sabias dizer.
perdi a vontade de estar contigo. de falar. de ver[-te].


perdi.me enquanto te perdia.
perdi.me sempre que pensava em qualquer coisa mais.
perdi.me.

hoje ainda me perco.
mas o tempo é amigo. 'meu' amigo.
e tal como os vasos que se partem há sempre outros que permanecem intactos.

e é nisso que penso quando estou prestes a perder-me mais um bocadinho.

18 junho 2007

Era assim todos os dias. A mesma rotina. Alegria ao ver-te chegar. Tristeza ao ver-te partir. Aquela sensação de vazio, um amargo na boca, um gosto a nada, era o que me ficava. Não sei. Talvez eu seja parva. Afinal o que interessava era o tempo em que estavas comigo. Aí, o mundo era diferente. E dizíamos tanta coisa um ao outro sem precisarmos de palavras… As palavras às vezes magoam – repetias. E eu sabia disso muito bem. Já tinha acontecido… em tempos. Então, entre risos e abraços e risos e beijos encontrávamos o que nos fazia falta. E isso era o mais importante.

11 junho 2007

O verão do amor foi em 1969... Acham que podemos repetir?

07 maio 2007

[malditas] horas

bateram à porta. eram 9horas. [malditas horas] já vai. já vamos quer dizer. abre a porta. fecha a porta. quem era. ninguém. [bateram à porta e não era ninguém. maldita gente] batem de novo à porta. são agora 10horas. [malditas horas] já vai. abre a porta. fecha a porta. quem era? ninguém... [malditas coisas de nada] batem à porta. já passa da meia-noite. abres. não. porque? quem quer que fosse não quer que eu abra. se for importante entra de qualquer maneira [as coisas importantes não se vêem e não batem à porta]. saem. já se vê luz no horizonte. era alguma coisa importante? era.

04 maio 2007

hi i'm daniela and i'm claustrophobic. what's your excuse?!