22 setembro 2007

anda só mais um bocadinho
[o mundo é pequenino e encontra-los num instante]
eras uma luz pequenina. loirinha. bonita.
rias todo o dia. toda a tarde. toda a noite.
gostavas de toda a gente. brincavas com toda a gente.
eras o meu telefone para o mundo. a minha conta astronómica no final do mês.
eras a minha luz.

esforça-te só mais um bocadinho
[vais acabar por alcançar o que queres]
eras a minha paz. a minha calma. a minha ligação à terra.
tinhas um tereré e levavas as cores do arco-íris ao pescoço.
gostavas da relva e das fadas e dos duendes mágicos.
e nunca acreditaste muito nos números.
eras muito expressiva e sentimental e tinhas um coração do tamanho do mundo.
eras a relva. as flores. as árvores.

corre só mais um bocadinho
[não te vais cansar muito]
eras o meu riso. contigo estava sempre a rir.
não te conseguias calar um bocadinho [só ao pé dos outros]
eras tímido [hoje um bocadinho menos]
gostavas de lutas e coisas assim. [eu não gostava, mas achava piada]
achava até piada quando dizias que compravas acções da playboy...
eras a felicidade. o circo. a criança.

aguenta só mais um bocadinho
[um ano nem é muito tempo]
eras alto. esguio. forte. a minha protecção.
tinhas um riso tímido. de bebé.
achavas piada a tudo também [principalmente àqueles dois]
gostavas de jogar à bola. aliás de qualquer desporto.
eras um doce, por baixo daquele ar the 'tough guy'
eras o meu apoio. o outro lado da conversa. a realidade. a terra.

sorri só mais um bocadinho.
[mesmo sem vontade]
eras linda, mas nunca acreditaste nisso.
gostavas de nadar [eras um peixinho dentro de água]
mas sempre foste insegura e emotiva, e talvez por isso tenhamos ficado amigas
[eu também sou]
rias com as nossas "danças" e apanhaste o 'bitch'.
gostavas de sair à noite, de dançar.
eras a minha lua. a minha noite. a minha solidão.

fala só mais um bocadinho.
[mas não penses muito]
eras o mais peculiar de todos. o mais cómico.
podias fazer grandes espectáculos que todos te iriam aplaudir.
nunca ninguém conseguia estar ao pé de ti mais de dois minutos sem desatar à gargalhada.
gostavas de pôr músicas nas aulas de matemática [principalmente ' a felicidade' e o 'frique-frique']
mas à primeira vista parecias o mais calminho de todos. um sossego.
eras a calma por detrás da tempestade. o calor. a paródia.

grita só mais um bocadinho
[mais alto. assim ninguém te ouve]
eras diferente. barba. cabelo comprido. eras tu.
sempre foste sincero. [até naquela vez em que me disseste que o meu cabelo estava uma merda]
gostavas de fazer filmes [como eu] e de cantar.
querias sempre ir a concertos e pular muito [nunca cheguei a ir a um contigo]
eras a música. a alegria. o dia.

calma, é só mais um bocadinho
[já falta tão pouco...]
eras tão pequenina, mas tão crescida ao mesmo tempo.
tinhas os olhos cor-do-mar em dias de tempestade e quando sorrias, eles sorriam.
gostavas de futsal e de correr [liberta não é?]
querias mexer com os computadores e não tarda serás uma futura engenheira.
eras a cor. a força.



mas presente não é passado. e vocês são, não eram. e para mim serão sempre.

20 setembro 2007

ignorância

Parte-me por dentro saber tanta coisa. saber que não fico onde quero. saber que estou onde não faço falta. saber que deixo tanto para trás. saber que estou a crescer e a mudar. saber que o tempo passa mas a saudade fica. saber que a distância, muitas vezes, é uma cabra. saber que sonhos por vezes não passam disso mesmo. saber que mais cedo ou mais tarde vou deixar de cantar na rua. de me deitar no banco do jardim a ver o rio. saber que vou ter responsabilidades a sério. que o mundo não é uma brincadeira. nem tão bonito como aparece nos filmes. saber que as pessoas nem sempre nos abraçam quando precisamos. saber que muito do que temos por certo é uma ilusão e a vida por vezes é uma autêntica merda. saber que, um dia, vou deixar definitivamente tudo o que conheço e passarei a não conhecer nada. saber que o amor não passa de uma quimera. de uma torre de babel fantasiada que não atinge o céu nunca. saber que não existe um yang para cada yin. saber que a chuva é mais frequente que o sol e que quando pensamos que o dia não pode ficar mais cinzento [surpresa] fica preto. saber que a saudade corrói desorienta e mata-nos mais depressa do que qualquer faca. saber que vou partir muitos pratos até acertar com o armário. saber que um dia acordo, olho para trás e não vejo nada do que imaginei aos 9 anos. saber que os espelhos roubam-nos a alma e a vida. saber que nada mais importa.
mas eu não quero saber nada disto. não por agora. não nos próximos 50 anos. nem na próxima vida. se é assim prefiro viver ignorante... sempre.